terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Eu nem os ossinhos escondo



Como continua a chuvinha passo a tarde com o focinho enfiado nos jornais (quem falar em carnaval apanha uma trincadela). Acabo de ler que os senhores desta casinha querem esconder os rendimentos. Ainda tentei que o meu mordomo me explicasse as razões, mas ele ficou caladinho (diz que está de folga e não quer pensar em trabalho).

Fiquei confuso porque não escondo nada, a não ser as minhas pepitas. Procuro sempre cantinhos discretos para me separar delas. O meu mordomo também deve saber que elas são preciosas e por isso anda sempre atrás de mim com saquinhos de plástico. O tonto passa a vida curvado, a recolhê-las do passeio, para logo as abandonar inexplicavelmente nos caixotes de lixo, com um desprezo tal que a princípio me deixava muito ofendido.

Passados milhares de passeios a dois não me resignei (jamais, em português de cão!). Descobri outrossim uma forma de suportar a ofensa sem cortar relações com o mordomo. Passei a encarar o combate ao desperdício dele como um jogo, mais ou menos como aqueles senhores que fecham restaurantes e fechavam urgências. Quando me dá para mostrar que eu é que mando fujo ao mordomo e planto as minhas preciosas pepitas num canteirinho. Sei que são um bom alimento para as flores e plantinhas de que gosto tanto.

Mesmo assim, é verdade, enterro-as bem enterradinhas na terrinha (precisava de uma transgressão gramatical para vos explicar bem como faço). Mas não me dou a tanto trabalho por medo de que o mordomo mas roube. Só sujo as minhas loiras patinhas traseiras para as pepitas não ficarem a cheirar mal. Será por essa razão que esses senhores querem esconder os rendimentozinhos deles?

2 comentários:

Anónimo disse...

Já que te dás com jornalistas, caro cãozinho, podias saber quem foi quem foi que pediu para esconder a massa. Não terão sido todos, pios não?

Anónimo disse...

jornalista, nao sei: mas enfermeiro tem vida de cao nos tempos que correm! de cao mas de rua, está bem de ver...