quarta-feira, 26 de agosto de 2009

SOB ESCUTA

Andam por aí muitos patetas a dizer que o senhor BB* tem a mania da perseguição por julgar que é escutado.

Patetas é o sinónimo humano para matilha, essa forma antiquada de inserção social (eu sei escrever atávica, mas antiquada chateia-os mais porque eles têm todos a ilusão de serem modernos). Um diz uma patetice, uns tontos fazem daquilo notícia ou opinião publicada, e outros mil patetas repetem a patetice até parecer que têm todos razão quando, na realidade, o que se revela aos povos é uma matilha de patetas que falam do que não sabem.

Eu sou um cão informado. Nos tempos que correm todas as pessoas interessantes são escutadas. Políticos, juízes, procuradores, administradores de grandes empresas, ministros (sim, ministros), jornalistas e até aquela cadelinha do meu bairro que andou a rasgar uns cartazes eleitorais porque não suporta mentiras e o dono dela ficou desempregado.

Por isso, eu e o meu mordomo começámos por abolir os contactos telefónicos. E agora, que se aproximam as eleições, abolimos a palavra. Falamos por mímica, como quando eu era cachorro.

Não precisam ser cães nem tenho eu de rosnar para saberem do que estamos a falar.

*BB, ou senhor de Belém e Boliqueime, era um código que o meu mordomo usava nos tempos em que ainda falava ao telefone

ANDO MORDIDO DE NERVOS


Vejam só o que acabo de ler no Correio da Manhã e me deixou com vontade de morder a própria cauda: "Felipe Caicedo vai cumprir um plano específico de emagrecimento. O jogador cedido pelo Manchester City ao clube de Alvalade já ganhou cinco quilos desde que chegou a Portugal, há sensivelmente um mês, situação que fez soar o alarme no departamento clínico leonino, depois de conhecidos os casos de Pedro Silva e Fábio Rochemback".

Para transcrever isto, arranquei a mim próprio doze pêlos loirinhos que ficaram a voar pela sala. E não fiquei satisfeito.

Eu alimento-me bem todos os dias. Duas pratadas de ração estão garantidas. Depois, tenho a minha dieta matinal: cubinhos de picanha no tio David, dois ou três salgadinhos na pastelaria do meu amigo Costa e mais carninha, em doses honestas, no talho do Manelito. Ao fim do dia, quando o mordomo chega a casa, biscoitos de carne. Alço as minhas belas patas dianteiras na banca verdinha da cozinha, feita de azulejos ainda mais bonitos do que os do nosso estádio, e chovem os biscoitos. E à noite, no sofá, jogo à apanhada com biscoitinhos em forma de osso. É só adivinhar a mão onde se escondem. Quando erro à primeira, atiro-me à outra. Nunca falha.

Mas eu não engordo. Continuo, na idade sénior, um cão elegante. Sou mais rápido do que o relâmpago jamaicano, mordo quase tão bem quanto o Senhor Medina Carreira, afasto mais bandidos do meu bairro do que o PGR no país inteiro.

Sou cão: como sempre que há comida, até rebentar. Mas também corro, corro que me farto.

Não sou um animal qualquer, como esses que andam por aí e até já invadiram o meu querido clube.