domingo, 28 de setembro de 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

QUE RICO CANTOR


O senhor com quem tanto implicam por ser engenheiro afinal gostava mesmo era de ser cantor. Acabo de o ver em Viana, uma terrinha deliciosa que eu conheço muito bem, a tentar cantarolar uns versinhos do Bob Dylan.

Foi na inauguração de uma fábrica daquelas ventoinhas gigantes que fazem concorrência à EDP. A fábrica, pareceu-me ouvir na televisão, é de uns senhores alemães. E este senhor gosta quase tanto de alemães como de venezuelanos da Venezuela ou de venezuelanos de Angola. Aquela patada do Ballack no nosso defesa antes de marcar o golo que nos eliminou no campeonato já está felizmente esquecida.

Sendo os senhores mais importantes da cerimónia uns senhores alemães, este senhor resolveu rematar o discurso dele em inglês técnico, esforçando-se muito para não retribuir a patada. Nada que me pudesse espantar. Mas, no finalzinho, fiquei totalmente deleitado quando ele saltou do inglês técnico para o americano de intervenção, um exercício arriscado para ele, se considerarmos que o Obama está quase mas ainda não roubou ao que lá está a casinha branca.

"The answer, my friend, is blowin in the wind, the answer is blowin in the wind", tentou ele cantar. Mas teve azar e o versinho saíu-lhe com aquela vozinha declarativa de sempre que fica tão gira no Gato Fedorento. Como eu gosto muito desta canção não resisto a deixar-lhe aqui outro versinho da mesma:

"How many ears must one man have
Before he can hear people cry?"

Não vá ele ter cantado de ouvido, sem saber a letra toda.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A COOPERAÇÃO INSTITUCIONAL

Eu tenho muitas dificuldades com a cooperação institucional. O meu mordomo, este Verão, levou-me para o Algarve com uns amigos dele e outro canito chamado Ruckie. Quando o vi entrar na mala do carro rosnei-lhe e passei a viagem a tentar arrumá-lo no lugar dele, que obviamente era do lado de fora. Quando ficámos os dois a sós pela primeira vez em casa, sem testemunhas, como convém, começou a violência doméstica. Eu tratei de tomar conta do sofá quando ele queria ir para o sofá e ele de ocupar o terraço quando eu queria ir para o terraço. Com o passar dos dias, cansados daquilo, optámos pela mútua ignorância. Foi a forma mais avançada de cooperação institucional que lográmos alcançar. Acho que não chegou para preencher os requisitos desse supremo entendimento entre dois seres vivos, para mim impensável, a que os biólogos chamam simbiose, mas foi o que se pôde arranjar.

É por isso que eu me comovia tanto com estes dois senhores. Eles eram sempre tão bonitos quando apareciam juntos. Sorrizinhos, abraços, palavras mimentas. Pareciam um casalinho enamorado, ainda por cima para nosso bem. Era até fascinante vê-los na televisão. Toda a gente lá aparecia a dizer mal desta vida, mas eles os dois não. Falavam de desafios, desígnios e oportunidades. Vendiam saúde, coragem e confiança a uma só voz. Aquilo era mesmo inspirador. Quando mostravam as imagens das reuniões deles comecei a baixar o som às reportagens para pôr a tocar aquela música tão bonita do Kenny Rogers e da Sheena Easton. O meu mordomo, quando chegava a casa, ficava muito aflito ao dar com umas lágrimas secas no meu lindo focinho, mas nunca soube a verdadeira razão. Eu também nunca lhe disse, por medo de abalar seriamente a profunda admiração que ele tem pelas minhas qualidades intelectuais e pelo meu faro político e porque posso ser um sentimentalão mas nunca deixo de ser um cão esperto. E quando o meu mordomo pensa que estou triste chovem os biscoitos e leva-me mais depressa à rua.

O drama é que deixei de saber que música hei-de eu pôr a tocar quando vejo estes senhores. Para começar, agora aparecem sempre separados. Mas se fosse só isso eu não estava tão preocupado com o nosso futuro. O pior é que o da direita começou a fazer comunicações ao país para falar mal do outro. Eu, que sei bem o que isso é, percebi bem o rosnar solene desses momentos. Depois, o senhor da esquerda começou a mandar os amigos dele responder ao outro. Ainda tive esperança que os dois trocassem uns bilhetinhos secretos e ultrapassassem as divergências para nosso bem. Mas não. Começaram os dois a devolver leis um ao outro.

Não prevejo nada de bom. Não sei porquê estes dois senhores fazem lembrar a minha história com o Gingão, um jovem labrador que me costuma aparecer a caminho da esplanada. De início ele rosnava e eu dava-lhe desprezo. Depois comecei a rosnar-lhe também. Até que um dia ele levantou-me as patas e eu dei-lhe uma trinca.



SILÊNCIO


Anda tudo aí a pedir para a avózinha quebrar o silêncio. Por mim, não preciso de histórias de encantar todas as noites para dormir tranquilo. Bom mesmo era que eles quase todos se calassem, para se poder ver televisão em paz. Podiam ser estes dois a começar, que são mais chatos do que aquele gato vadio da Rua da Verónica.