segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

As emergências dos gatos (ainda bem que nasci cão)

O mordomo da ASAE



Eu nunca quis este senhor para mordomo mas também nunca quis outro. Tenho o que Deus me deu para as tarefas básicas: mimos, água e papinha de marca a horas certas, biscoitos e longos passeios pelo bairro todos os dias, à praia ou às esplanadas nos fins-de-semana.Por isso nunca percebi tanta agitação para saber se este senhor era ou não engenheiro, se cumpria ou não as promessas, se punha o aeroporto mais para cima ou mais para baixo (eu cá só ando de avião quando me derem lugar na cabine e em primeira classe: não nasci para ser trancado num porão de carga).
Mas agora percebo o problema e descobri que ele não percebe nada. Se ele mandasse fechar os restaurantes onde como pedacinhos de picanha, a pastelaria dos salgadinhos de carne ou até a urgência veterinária, juro que afiava o dente. E ele pode correr as vezes que quiser, que eu sem treinar corro mais do que ele. Pelo meu médico, pelo senhor Costa do café e pelo tio David da churrascaria estou disposto a mudar de dieta.

Raça 2





Embora encare o facto com normalidade fico feliz porque os nossos jogadores cumpriram as minhas recentes instruções. Mas ainda acho que tenho lugar a titular. Se me deixassem marcar aquele defesa cabeludo do Porto com os meus dentinhos todos aposto que ele não se tinha atrevido a dar uma patada no menino joãozinho. E o senhor levezinho aproveitava para molhar a sopa. 3-0 é que era. Nham!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O meu castigo



Estou de castigo. Esta noite fiquei muito excitado e lambi um pacote de manteiga. Foi uma pequena transgressão, porque só havia um restinho. Ainda pensei ir buscar umas tostas à cozinha, mas a manteiguinha que sobrava, coitada, não dava para barrar duas decentemente, mesmo que eu a espalhasse bem com a minha língua.

O meu mordomo e a minha menina não percebem que, para cão, eu estou a entrar naquela idade em que só não me reformo porque o Governo agora precisa que a gente trabalhe a vida inteira para pagar o novo aeroporto. Pensam eles que ainda sou um miúdo de sete anos e continuam decididos a educar-me. Claro que já adquiri muitos direitos importantes, como às cascas de queijo ou a lamber tigelinhas de mousse de chocolate que eles me dão. Mas quando sou eu a tomar a iniciativa, como hoje, é certo que vou passar umas horas trancado na casa de banho.

Eu violo as regras com tanta decisão que entro sempre no castigo de peito feito. Mas hoje estou quase a chorar porque eles não valorizaram relevantes atenuantes ao meu comportamento criminoso. É que o meu mordomo chegou a casa e ficou à espera de não sei o quê na televisão. Reparei logo, porque é raro ele pôr-se de comando na mão a olhar para o relógio. Depois, quando o programa começou, percebi tudo.

Ele queira ver o senhor alegre. Eu não percebo nada de política mas gosto do senhor alegre porque ele escreveu um livro sobre um cão meu amigo chamado Kurika. O Kurika morreu e o senhor alegre ficou cheio de saudades e escreveu um livro muito bonito, chamado "Cão como nós", que o meu mordomo me deixou ler ao mesmo tempo que ele, privilégio raro porque o meu mordomo tem muito medo que eu aprenda mais do que ele nos livros.

Claro que, faz agora dois anos, fiquei irritado com o senhor alegre quando o meu mordomo me abandonou quinze dias em casa para andar atrás dele a fazer reportagens de uma campanha política. Mas já me passou. E hoje gostei muito dos desenhos que mostraram na televisão do novo livro dele. Fiquei muito excitado. Por isso, subiu-me uma fúria quando o mordomo e a menina saíram para jantar e não me levaram. Eles ainda me disseram que me passeavam depois. Mas eu queria espalhar logo a minha alegria pelos cantos do bairro.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Raça




Ultimamente, para não ficar nervoso, já nem sequer me ponho a ouvir os relatos. Vou fazer oito anos e isso é muito para o coração de um cão. Mas lá ganhámos um jogo este ano.
O que me chateia mais é que digam que a culpa é do senhor tranquilo. Eu não acho. Sei muito bem que ele até dava um bom mordomo. O pior é aquela equipa. Falta-lhe raça. E se aquele sueco pode trabalhar no IKEA à semana e jogar no Sporting ao sábado, então até eu tinha lugar a titular. Aposto que corro mais e se me deixarem agarrar a bola nos dentes marco mais golos do que o Purovic, pobrezito.

Então, e eu?


Há dias fiquei furioso com este senhor.
Eu já estou cheio que o meu mordomo me deixe todos os dias em casa a dizer que vai para a televisão. Por isso, quando ouvi este senhor dizer que era preciso meter na televisão novos comentadores, achei que tinha chegado a solução para o meu problema.
Mas ele esqueceu-se de mim! Vai ver no dia das eleições. Nem saio à rua, quanto mais votar nele.

Comecei mal o dia



Li no "Sol" - que até é um jornal de que gosto muito porque o meu mordomo leva-me à rua cedinho para o comprar aos sábados - que este senhor de óculos já comeu cão várias vezes.

A ele não o comia eu, nem torradinho de açúcar.