quinta-feira, 12 de junho de 2008

OS CABEÇUDOS


O mordomo às vezes adormece a ver os jogos porque diz que o campeonato anda chato. Mas eu fico a ver até ao fim. Quero estar preparado para o caso do pitbull, que já anda cansado, se magoar. Sou o substituto natural dele e só não fui convocado de início porque o sargentão é um conservador e quer aprender inglês, língua que eu não domino tão bem como o Paulo Ferreira, o Ricardo Carvalho ou mesmo o namorado da Nereida, que apesar do sotaque madeirense aprendeu línguas na academia de Alcochete.

Como estou sempre em forma tenho concentrado o meu treino na táctica. Vi o meu mordomo aos gritos cada vez que os checos mandavam a bola pelo ar (nos jogos de Portugal ele não consegue passar pelas brasas) e hoje li o speziale a dizer que estivemos à rasca, caim, caim, nessas jogadas. Se fosse só o meu mordomo a preocupar-se eu não ligava, mas o sacana do Mourinho sabe sempre de onde vem o mau agoiro em todas as línguas (a excepção agora é o português, mas ele tem de ser saloio nalguma coisa).

Aqui na sala e nas minhas saídas ao jardim comecei a correr de patas dianteiras no ar. Fico mais alto do que o menino joãzinho de oiro, o mágico e o próprio pitbull. Percebi que ganho em estilo. Os meus pêlos loirinhos do peito abanam mais ao vento do que a cabeleira do Veloso e iam dar melhores fotografias para a primeira página do Record (já estou a ver a manchete depois da minha feérica estreia: Petrificados). Só é pena que na minha versão bípede demore mais tempo a esconder a bola e a morder as canelas dos adversários nas transições defensivas.

O convite que recebi ontem para conselheiro do senhor de Portugal e de Boliqueime (não digam a ninguém, porque é Segredo de Estado) levou-me a rever as fotografias de Viana, uma cidade onde passo muitos fins-de-semana. Foi aí que tive uma iluminação táctica.

Em Agosto os vianenses organizam uns jogos sem bola naquela pracinha à saída do Manuel Natário. Se nunca provaram os rissóis, as empadas de lampreia e as bolas de Berlim do Manel é natural que não percebem nada de futebol. Mas eu conto-vos como é. Há várias claques a tocar bombo e depois duas equipas: uma de gigantones, tipo aquele checo de três metros de altura, e outra de cabeçudos, tipos baixinhos como o menino joãzinho de oiro, o mágico e o pitbull.

Os gigantones dão mais nas vistas mas mexem-se mal e encostam depressa ao castelinho. Os cabeçudos cercam os outros por todo o lado e correm mais até ao fim. Como aconselha o speziale, que não fala português mas já deve ter ido a Viana, os cabeçudos marcam os gigantones à zona porque não se pode marcar homem a homem anormais como aquele checo que é uma ameaça permanente para a bola. A solução é correr mais do que eles e marcar mais golos.

O nosso problema na final grega não foi ter sofrido um golo: foi não ter marcado nenhum. Uma desgraça, porque tínhamos rapazes e até respeitáveis velhinhos (lembram-se do Rui Costa antes de ele andar por aí de fatinho?) para marcar três ou quatro. Se voltarmos a jogar para empatar em altura temo o pior. Deixem-me atacar junto à relva e eles vão ver.

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