terça-feira, 10 de junho de 2008

O DIA DA RAÇA


Eu devia ser conselheiro de Estado. Não é que a função me agrade. Preferia jogar a trinca no Sporting ou atender ao balcão no talho do Sr. Manel (obrigado pela carninha Manelito, estava muito boa!).

Mas nós temos que estar disponíveis para a Nação, sobretudo nos piores momentos (piores são os momentos em que as pessoas se sentem ainda mais zangadas do que quando estão mal, porque mal estão há muito tempo). Não, não me passaria pela ideia cumprir serviço militar. Não gosto da ração de combate. E não aguentava aqueles desfiles e movimentos todos a toque de corneta.

Ainda hoje os vi, aos pobres, horas ao Sol em pleno Campo D'Agonia. Em vez de irem atacar o arrozinho de peixe da taberna do Valentim, ou o churrasquinho da Zefa Carqueja, andaram às voltinhas em carros de guerra como se estivessem no Iraque. E os coitados que não tinham carro ficaram ali sossegaditos, de pé, à espera da corneta para mexerem um bocadinho as espingardas ou dar um passinho para o lado.

Conselheiro de Estado era outra coisa. É certo que no palácio de Belém, pelo que vi na recepção aos jogadores, é só sumos e coca-colas, deve haver falta de biscoitinhos. Mas quando os camionistas voltarem a circular talvez deixem lá um carregamento.

Ao contrário do que aconteceria no talho, em que o único beneficiado com o emprego iria ser eu, que sou cão mas não sou parvo, já como conselheiro de Estado mostrar-me-ia muito útil ao senhor Presidente. Sou um cão de raça com tradição na caça (era assim que deviam chamar à política) e muito bem informado. Por exemplo, conheço muito bem Viana. Os conselheiros dele devem ter-lhe dito que, no meio desta aflição, era o sítio ideal para fazerem uma festinha em grande porque os minhotos são muito simpáticos. Pois são, mas tê-lo-ia avisado de que não são parvos
.



A maior desgraça da falta de conselheiros à altura abateu-se sobre o senhor com quem só implicavam por ser engenheiro e agora implicam por tudo. Foi assobiado e vaiado. A simpatia dos minhotos desta vez restringiu-se à representação oficial. Só as lavradeiras trajadas de vermelho lhe bateram palmas, talvez porque o Benfica, afinal, sempre vai jogar um jogo da Liga dos Campeões.

Uma coisa é ele ir lá fazer uma corridinha. As pessoas gostam, porque gostam sempre de o ver fazer alguma coisa que não faça mal a ninguém. Outra é aparecer com o mesmo fatinho e gravata unicolor com que passa a vida a dar más notícias na televisão.

Com era o dia da raça, só se eu lá estivesse teria havido palminhas.

Aproveito a efeméride para declarar que tenho alguns problemas com os pitbull, mas até gosto das raças todas. Claro que cadelinhas pitbull como a Mimi da esplanada só há uma, mas isso é assunto privado. Do domínio público é só o meu conselho:

Os minhotos, que eu conheço muito bem, são simpáticos. Mas não são parvos.

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